Contexto: O rótulo de “alergia à penicilina” encerra a porta para muitos tratamentos eficazes para várias infecções. Uma regra simples que ajude a identificar o baixo risco de alergia nos pacientes portadores desse rótulo pode ser muito útil na prática clínica.
Pergunta clínica: Que doentes com história de alergia à penicilina terão um baixo risco e poderão voltar a fazer β-lactâmicos?
Desenho do estudo: Estudo de coorte prospetivo multicênt
Resultados: A prevalência de testes positivos para alergia à penicilina foi de 9.3%. A aplicação da ferramenta de decisão permitiu determinar as 4 caraterísticas que mais se associaram à existência de testes positivos para alergia à penicilina – mnemónica PEN-FAST: (F) five or fewer years ago – reação há 5 anos ou menos (2 pontos); (A) anaphylaxis/angioedema – episódio de anafilaxia ou angioedema (2 pontos); (S) SCAR – severe cutaneous adverse reaction – episódio de reação cutânea grave (2 pontos); (T) treatment required – necessidade de tratamento para o episódio de alergia (1 ponto). A necessidade de tratamento para a reação alérgica foi classificada como critério minor, tendo sido os demais classificados como critérios major. Os valores de cutoff definidos para a ferramenta PEN-FAST foram os seguintes: 0 pontos – risco muito baixo de teste de alergia positivo (0.6%); 1 ou 2 pontos – risco baixo de teste positivo (5%); 3 pontos – risco moderado de teste positivo (20%); 4-5 pontos – alto risco de testes positivos (50%). Assim, uma pontuação inferior a 3 pontos traduziu um baixo risco de alergia à penicilina (valor preditivo negativo de 96.3%, sensibilidade de 70.7%, especificidade 78.5%). Com a validação externa obtiveram-se resultados semelhantes.
Comentário: A utilização desta regra PEN-FAST pode permitir, de forma simples e com elevado valor preditivo negativo, identificar pacientes com baixo risco de alergia à penicilina, que não necessitam testes de alergénios não disponíveis nos Cuidados de Saúde Primários, possibilitando, assim, a utilização segura de β-lactâmicos. Poderá também permitir orientar pacientes com alergia à penicilina de baixo risco para realização de prova de provocação oral em vez de teste cutâneo.
Artigo original: JAMA Intern Med
Por Pedro Santos Sousa, USF Gualtar